Andrezza Tavares

Doutora em Educação (UFRN/2010)​, professora dos cursos de Graduação e dos Programas de Pós-Graduação do IFRN e Coordenadora Institucional do PIBID/IFRN/2013.

25/04/2020 19h37

 

 

 

Bento Silva

Andrezza Tavares

 

A pandemia, provocada pelo coronavirus, fez parar Portugal e todo o mundo, colocou-nos em isolamento e está a ter repercussões em muitas áreas da sociedade. A Educação Escolar foi uma dessas áreas, e, praticamente em todos os país do paises, o ensino presencial deixou de ser praticado passando a Educação a Distância (EaD)  a assumir esse papel, em todos os níveis de ensino, do fundamental ao superior. É uma situação nunca antes vista, uma EaD generalizada a todas as crianças e jovens.

A pandemia tem mostrado a extraordinária utilidade da Internet em todos os âmbitos. Isolados em nossas casas, a Internet, com seus dispositivos de informação e comunicação, tem-nos permitido que estejamos juntos, ainda que virtualmente, interagindo por meio de texto, voz e imagem com nossos familiares e amigos/as. Também na Educação,  particularmente nas Instituições de Ensino Superior (Universidades e Institutos), tem permitido que as atividades letivas prossigam por meio de uma Educação Online (EO), com bastante qualidade.

Prefiro a expressão EO à de EaD, pois esta, para além da distância física (geográfica) remete para uma distância comunicativa e pedagógica entre professores e estudantes, ao passo que na EO as pessoas, mesmo estando geograficamente dispersas (no país, mas mesmo em países diferentes e com distâncias intercontinentais), em potência estão juntas e próximas, compartilhando informações e conhecimentos por via da mediação tecnológica e seus dispositivos de comunicação síncronas e assíncronas disponíveis nas Plataformas de Aprendizagem E-learning.  

Desde inícios do século XXI que as IES, de uma forma geral, se vinham preparando para ter oferta de cursos na modalidade de EO, seja pela aquisição/adoção de plataformas de E-learning seja pela preparação pedagógica dos docentes interessados por esta modalidade.

Foi o caso da Universidade do Minho (Braga/Portugal, meu contexto profissional) com o conceito de “Universidade Sem Muros”, implementando de forma gradual o seu Campus Virtual por meio de instalação de uma infra-estrutura de rede sem fios, aquisição de uma plataforma (Blackbord), ajustando-a à medida dos seus cursos, disponibilização de formação dos seus docentes e adesão ao sistema de acesso livre do conhecimento por meio da criação de um RepositoriUM online. Inclusivé, alguma da sua oferta educativa passou a ser feita na modalidade híbrida (combinando o presencial com o online). É o caso do Mestrado em Ciências da Educação, área de especialização em Tecnologia Educativa, que desde 2008 passou a ser lecionado nesta modalidade, na razão de 50% presencial e 50% online. Pelo pioneirismo da altura, este mestrado despertou o interesse internacional do seu estudo em duas teses de doutoramento, uma realizada na USP e outra na PUC, ambas universidades de São Paulo.

Na qualidade de coordenador desse mestrado, durantes várias edições, termino este apontamento com algumas sugestões para uma EO de qualidade, entendo que úteis para este momento em que esta modalidade está generalizada:

- Para as instituições, o desafio é possuírem uma plataforma de e-learning de funcionamento intuitivo (usabilibilidade técnica), com dispositivos atrativos de comunicação assincrona e sincrona, que haja uma equipa de apoio técnico (a docentes e estudantes), que assegure a fiabilidade do seu funcionamento durante todas as horas da semana (7d x 24h) e garanta a confiança das infomações e comunicações que ocorrem online. Ainda, que esteja atenta a possíveis desigualdades digitais pois nem todos os estudantes possuem em suas casas as condições de acesso a tecnologias e a  Internet de qualidade. Sabendo-se que desigualdades tecnológicas (digitais) estão diretamente relacionadas a desigualdades sociais, as IES, sobretudo as de regime público, devem levar em conta estas situações particulares e ajudar os estudantes desfavorecidos.

Para os docentes, lembrar que a EO não é só enviar textos em pdf e propor atividades, nem fazer palestras expositivas. As plataformas de e-learning apresentam inúmeras possibilidades de interação pedagógica, os conteúdos podem ser apresentados em vários formatos e linguagens, podendo mesmo ser criados. Uma aula online pode ter conversa, debate, escrita colaborativa, narrativas digitais, propostas de criação de imagens, podcast, vídeos, mapas conceituais, apresentações interativas, visitas virtuais, entre muitas outras possibilidades. O desafio é propor atividades que potenciem a interação pedagógica, pois na EO é possível flexibilizar e distribuir o controlo da aprendizagem, evoluindo para modelos pedagógicos colaborativos, em que a coaprendizagem e coavaliação assumem lugar de destaque.

Para os estudantes, o desafio é que coloquem as suas competências de nativos digitais ao serviço da aprendizagem, e que com esta nova experiência passem a adquirir competências à altura dos tempos da sociedade digital, como comportamentos de autorregulação, autonomia cognitiva e emocional.

Este período que estamos a viver não é um momento fácil, para todos, instituições e pessoas nelas envolvidas. A nossa esperança é que a Ciência encontre a solução “milagrosa” rapidamente, por meio de uma vacina, e que no período pós-pandemia, alavancados por esta experiência de EO generalizada, possamos construir coisas novas no futuro. A Educação/Ensino presencial nunca desaparecerá, faz parte do DNA da Humanidade, mas é possível caminhar para um sistema híbrido, em que o presencial e o online se complementem, caminho esse que está em correspondência aos tempos da Sociedade Digital que vivemos.

 

Nota: Esta Coluna publicada no Portal de Jornalismo Potiguar Notícias integra o repertório de publicações do Projeto pluri-institucional intitulado “Diálogos sobre Capital Cultural e Práxis do Instituto Federal do Rio Grande do Norte (IFRN) - IV EDIÇÃO”. O Projeto, vinculado a Diretoria de Extensão (DIREX) do campus IFRN Natal Central e ao Programa de Pós-Graduação Acadêmica em Educação Profissional PPGEP do IFRN, articula práxis do campo epistêmico da Educação a partir de atividades de ensino, pesquisa, extensão, inovação e internacionalização com o campo da comunicação social a partir da dinâmica de produções jornalísticas por meio de diversos canais de diálogo social como: portal de jornal eletrônico, TV web, TV aberta, rádio e redes sociais. O objetivo do referido Projeto de Extensão do IFRN é socializar ideias e práxis colaboradoras da educação de qualidade social, de desenvolvimento humano e social por meio da veiculação de notícias em dispositivos de amplo alcance e difusão de comunicação social. Para mais informações sobre o Projeto contacte a coordenadora: andrezza.tavares@ifrn.edu.br.  

 

 


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