Ah, essas paixões
Tenho feito garimpagens nas minhas gavetas e arquivos. E andei descobrindo que em 2013 eu me encontrava para lá de apaixonada... Ah, essas paixões que nos deixam melosas, poéticas e enxeridas. Trago hoje dois desses achados diagnosticados com paixonite aguda. Agudíssima!
DEIXA EU DORMIR EM VOCÊ!
Deixa eu dormir em você!
Era o pedido que meus ouvidos saboreavam.
Pedido convite
Entrega e segurança,
De quem sabia que em meu peito
Sentiria paz... temperança.
Dormiria os sonhos mais açucarados
E se viessem aterradores,
Nem males, nem dores,
Pois desperto do terror, se encontraria
Inteiro e profundamente meu.
E com olhos sorridentes e madorrentos
Voltaria a devanear sorrindo
Em um mundo onde o que era
Sempre seria e sempre será.
E gozaria dos pensamentos que também me pertenciam
E iríamos nos amar... amar...
Na tranquilidade de estarmos juntos
Haveria troca, prazer e frenesi.
Aglutinaríamos nossas almas e corpos
Num encontro oxímoro de opostos
Em que teu pedido
Receberia um sim
Sim, menino, deixo-te dormir em mim!
REFEIÇÃO
Houve um tempo em que te quis inteiro.
Todo.
Apoteótico.
Feito Apolo cavalgando o Sol.
De corpo uníssono, para ser devorado de uma só vez.
Não senti o gosto nem o prazer que sonhara.
Teu sabor não foi tão bom
e tu ficaste preso na garganta
como espinha de peixe
ou angústia
ou choro de remorso.
Cuspi-te fora.
Apesar de a boca cheia d'água,
sedenta de ti e voraz.
Aí veio o tempo em que te quis as partes.
Todas elas.
Uma de cada vez.
Petiscos para meu prazer.
Primeiro comi teu cheiro
e o olfato despertou-me a textura
e o sabor de tuas carnes.
Depois comi teus olhos
e eles me encheram de vida
e paixão
e delicadeza
e encanto.
Requintei,
sensibilizei meu paladar
e teu sabor me foi o melhor.
Em seguida comi tua boca
e nela veio teu sorriso
e tua língua
e teu hálito.
Entendi tuas palavras,
tuas ideias
e a fome que sentias de mim.
Descobri ali que tu também me querias
em teu nariz e olhos,
em tua boca e pele,
em teu coração.
Daí almocei-te
(entrada, prato principal, sobremesa e um cafezinho para um cigarro.)
E por último deixei-me virar ceia.
À noite, tarde, toda.
Por partes,
aos bocados,
em pedacinhos.
Até que nos consumimos
e viramos sol.
Só no amanhecer.
*ESTE CONTEÚDO É INDEPENDENTE E A RESPONSABILIDADE É DO SEU AUTOR (A).
*ESTE CONTEÚDO É INDEPENDENTE E A RESPONSABILIDADE É DO SEU AUTOR (A).