Bia Crispim

16/06/2023 12h50

 

Anel errado, lições certas

 

Eram anos 80, uma mãe de 6 filhas, com quase 50 anos e formava em Letras. Seu marido, um carpinteiro que pouco estudou na vida, em comemoração a esse sonho realizado pela esposa, presenteou-a com um lindo, caro e emblemático presente: um anel de formatura.

Não sabia ele que para cada área de conhecimento, a pedra do anel tem cores distintas. No caso de Letras, a cor é violeta, a pedra é ametista. E por não saber, ocupou-se em comprar um bem vistoso. Uma solitária em ouro, encrustada de brilhantes, com uma enorme pedra no topo e símbolos em alto-relevo nas laterais.

Lindo, lindo, lindo... enchia os olhos de qualquer pessoa. Mas como foi dito antes, ele não se importou com a cor da pedra. Uma safira azul ocupava o lugar da ametista violeta. E em lugar da flor de lis, um outro símbolo. O anel, definitivamente não era para uma recém-formada letróloga.

Talvez, valorizando mais a intenção e a admiração que aquele presente carregava, e sabedora de que revelar o erro do marido a ele poderia ser doloroso pela falha cometida graças a sua ignorância, ela o recebeu, o colocou no dedo e o ostentou durante sua festa.

O anel, que chamava muita atenção, foi guardado em uma caixinha de joias, e virou elemento de admiração por uma de suas filhas: a mais nova. A que sonhava receber um anel igual aquele quando crescesse. A que sonhou em ser professora, que queria, como sua mãe, fazer Letras. Que desejou uma festa de formatura...

A que, com o passar do tempo, realizou tudo isso: formou-se em Letras, tornou-se professora e, para sua surpresa, ganhou de presente um anel de formatura lindíssimo: Uma solitária em ouro, encrustada de brilhantes, com uma enorme pedra no topo e símbolos em alto-relevo nas laterais.

Sim, a filha recebeu de sua mãe aquele anel, o mesmo anel, aquele que carregava uma safira azul no lugar da ametista violeta. E que, em lugar da flor de lis, trazia um outro símbolo. O anel que definitivamente não era para uma recém-formada em Letras, mas era um anel que carregava muitas histórias.

A história de um marido, que mesmo sem entender de cores de pedras e suas simbologias, quis se orgulhar da conquista e nova formação de sua esposa – algo tão distante de sua realidade de trabalhador braçal.

A história de uma esposa, que reconhecendo esse orgulho em forma de um anel de formatura encantador, e dos olhos brilhantes de seu marido, preferiu ver a safira azul, violeta, como se ali estivesse uma ametista.

A história de uma filha que por conta desse anel, sonhou, alimentou seus sonhos e colheu seus próprios frutos. E que, de quebra, ganhou um anel de formatura que carregava não só histórias, mas muitas lições para muitas vidas.

*ESTE CONTEÚDO É INDEPENDENTE E A RESPONSABILIDADE É DO SEU AUTOR (A).


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