Ginecologista e Obstetra, especialista em Reprodução Humana (CRM-SP 102.616)
Cognição e memória na menopausa
Mariana Medina de Almeida Pereira
A menopausa acontece devido à queda na produção dos hormônios sexuais, especialmente o estrogênio. Essa queda traz diversas consequências à saúde da mulher: sintomas vasomotores (os chamados fogachos), alterações de humor e sono e distúrbios de cognição são as principais.
Estudos comprovam que o estrogênio desempenha funções no sistema nervoso central. Através da ligação a receptores cerebrais, auxilia no estímulo nervoso. Com a diminuição gradual desse hormônio ocorrida na menopausa, diversos mecanismos relacionados à cognição ficam prejudicados. Memória, atenção e velocidade de processamento sofrem um déficit significativo.
Além disso, a diminuição deste hormônio também pode ter relação com distúrbios neuropsiquiátricos, como Doença de Alzheimer, esquizofrenia e depressão, devido à diminuição dos neurônios de sistemas envolvidos na proteção contra essas doenças. Isso ocorre porque o envelhecimento hormonal leva ao envelhecimento cerebral.
Na menopausa, muitas mulheres queixam-se de dificuldades relacionadas ao sono. Sabe-se que muitos desses distúrbios, percebidos mais fortemente nessa fase, já ocorriam antes dela. Entretanto, algumas mulheres experimentam tais sintomas pela primeira vez na menopausa, pois a queda hormonal gerará fogachos, que podem ocorrer à noite, desencadeando despertares noturnos e, consequente, prejuízo no sono. Todas essas mudanças podem, ainda, alterar respostas ao cortisol e à serotonina, hormônios responsáveis pela estabilidade do humor. Quando estão alterados, sintomas muito relatados pelas mulheres na menopausa, como depressão, irritabilidade e alterações do humor podem acontecer.
A terapia de reposição hormonal pode atuar em todas as queixas descritas acima. Se iniciada ainda nos primeiros cinco anos de início da menopausa, seus efeitos são mais consistentes, embora consideremos a janela de oportunidade os primeiros 10 anos após a última menstruação. Estudos descreveram esse período como uma janela crítica, revelando ser esse o momento ideal para começar a reposição de estrogênio. Um atraso no início do tratamento pode levar à diminuição dos efeitos positivos, pois com o envelhecimento da paciente, por si só, já há acometimento de neurônios.
Portanto, a terapia de reposição hormonal também pode auxiliar na recuperação da cognição por meio da prevenção da perda de neurônios, da promoção da memória e do aumento do volume cerebral. E contribui para evitar desencadeamento de distúrbios neuropsiquiátricos e para melhorias em sintomas relacionados a sono, fogachos e humor.
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