Kalina Paiva

Natural de Natal/RN, é professora e pesquisadora do IFRN, autora de poesia e contos de terror.

19/07/2024 10h29

Cuide dos seus achados, esqueça os seus perdidos

 

“É para ver isso que pago internet” - Eis uma frase recorrente que leio entre os comentários nos posts de humor. Sim, leitores, também sou do grupo que usa a internet para distrair o cérebro com humor bem brasileiro, principalmente quando estou em um dia difícil. Psicólogos dirão que é uma estratégia de sobrevivência. Além dessa, existe outra: conselhos úteis no controle de pragas sejam elas psíquicas (as vozes da nossa cabeça) ou reais (a voz do outro que reverbera sobre nós como “fogo amigo”).

Os memes ficarão por sua conta, leitor, por isso cuide dos seus achados. Hoje, minha tarefa nesta coluna consiste basicamente em trazer alguns conselhos para que você esqueça os seus perdidos, aqueles pensamentos e sentimentos que não valem a pena se demorar, mas sim aprender com eles.

 

Não se demore no lamento, 

apenas aprenda e siga.

Há quem te ame

e há quem te odeie.

Há quem te engane

e há quem te saboreie.

Há quem te cale

e há quem amplie a tua voz.

Há detratores 

e há os que te celebram.

Apenas aprenda e siga, 

e habite onde as existências te favoreçam.
    (Autor desconhecido)

 

Há uma frase de Frida Khalo que bem poderia funcionar como moral da história para esse texto de autoria desconhecida: “Onde não puderes amar, não te demores.”

Que me perdoe Frida, mas fico com Nina Simone pelos elementos pedagógicos explicitamente presentes no seguinte discurso: “Você tem que aprender a levantar-se da mesa, quando o amor já não está sendo servido".

No pensamento de Nina, a palavra aprender fala aos nossos corações. Desapegar de um hábito, mudar um paradigma requer aprendizado. Mas não basta apenas aprender, é necessário agir, por isso o levantar-se da mesa. Note que ela não usa a expressão “retirar-se” mas sim “levantar-se”, pois a mesa pode estar montada em um fosso.

 

Créditos: Freepik 

 

Gosto da palavra levantar porque ela, sozinha, carrega em seu interior força, motivação e determinação para sair de um estágio que nos aprisiona. Levantar é a hora de sacodir a poeira e dar a volta por cima, após reconhecer a queda, como cantou Paulo Vanzolini. Quando não reconhecemos a queda, como vamos compreender o local em que nos acostumamos a estar? Levantar é também um estado de lucidez.

Maya Angelou também abraçou este verbo nos versos de “Ainda assim eu me levanto”, mesmo com ventos contrários, mesmo com as mentiras lançadas sobre a história do seu povo, jogando sua cultura contra o chão de terra. É com poeira que ela diz: “Eu vou me levantar”.

Ainda estou ruminando o texto de autoria desconhecida junto com as frases de Frida Khalo e Nina Simone. Eles são levantes para os quais precisamos voltar como quem aprecia um mantra de força. Enquanto vou me construindo como sujeito, deixo uma pergunta – meu achado – para vocês: 

Quantos cárceres são necessários para que tenhamos força necessária para nos levantarmos de uma mesa?

__________
 
Sobre mim
 
Kalina Paiva, professora do IFRN - Campus Natal-Central, é natural de Natal/RN. É autora de poesia e contos de terror. Gatilhos Poéticos (2022), Cantigas de amor e guerra (2023) são seus livros mais recentes. Membro da União Brasileira dos Escritores - Seção Rio Grande do Norte (UBE/RN), da Sociedade dos Poetas Vivos e Afins do RN (SPVA), do Mulherio das Letras Nísia Floresta, e da Associação Literária e Artística de Mulheres Potiguares (ALAMP); Coordenadora de Letras e Literatura do Movimenta Mulheres RN. É pesquisadora na área de Literatura, História e memória, e mídias. Instagram: @kalinissima

 


*ESTE CONTEÚDO É INDEPENDENTE E A RESPONSABILIDADE É DO SEU AUTOR (A).