Daniel Costa

Advogado. Assessor no Tribunal de Contas. Doutor e mestre em ciências sociais pela UFRN.

13/11/2024 10h06
POR QUE TANTAS CORRIDAS?
 
 
Os vídeos do médico Drauzio Varella falando sobre os benefícios da corrida estão espalhados pela internet. Nas redes sociais, pululam shorts de influenciadores em que ela é alçada à condição de fonte da juventude dos tempos pós-modernos. Relatos sobre essa temática são  cada vez mais comuns nas prateleiras das livrarias. E até  mesmo  um escritor do naipe de  Murakami já  teceu loas à transformação que esse esporte causou em sua vida.
 
As vantagens para a saúde ocasionadas pela corrida são inegáveis. Na realidade, existem inúmeros estudos científicos sobre o assunto, com provas mais do que cabais a respeito do seu valor. De maneira que eu, particularmente, toco jazz para aquelas pessoas que se dispõem a tirar o pijama antes das 5 da manhã para colocar os pés no asfalto.
 
Mas, como nem tudo na vida é só endorfina, cabe dizer que tem havido um exagero nessa coqueluche de correr, particularmente quanto aos eventos de rua realizados aqui por estas bandas.
 
Em Natal, deu na telha da rapaziada bloquear avenidas da cidade praticamente toda semana para que “pseudocorredores” se divirtam à custa da paciência alheia. Eventos públicos e privados se apropriam de importantes vias da capital, atrapalhando o trânsito, para alimentar os bolsos de alguns e fazer a alegria de meia dúzia.
 
Eu não sou contra a felicidade de quem quer que seja nem tampouco que um sujeito que corre 1 quilômetro e anda outros 4 se autodenomine corredor. Agora, achincalhar o trânsito urbano dificultando o passeio em avenidas como a Engenheiro Roberto Freire e a Salgado Filho, é difícil de engolir.
 
Dia desses soube que algumas pessoas ficaram presas na UFRN até que acabasse uma competição no anel do campus universitário. E não se trata de eventos internacionais em que existe a participação de atletas profissionais, com premiações importantes, e contando com a adesão de secretarias municipais visando fomentar o turismo e coisa e tal. São corridinhas de faz de conta, reunindo cinco dezenas de atletas com sobrepeso.
 
Não é que elas devam ser proibidas de acontecer. Mas por que não realizar esses eventos, por exemplo, na Avenida 8? Ou lá nas ruas da Cidade Alta, que andam mesmo precisando de gente circulando?
 
Muito mais do que correr, parece que  a maioria dos indivíduos que participa  desses acontecimentos quer mesmo é tirar uma onda, com tênis da moda e roupinha de marca combinando com as meias. Tudo para fazer selfies nos cartões-postais da cidade. Do jeito que a coisa anda, não vai demorar muito para estarem fechando a Nevaldo Rocha, na altura do Midway, para que os adeptos sigam às compras e aos restaurantes após uma caminhadinha suada.
 
Drauzio Varella, Murakami e outros doutos que me desculpem, mas se alguém vier me perguntar “por que tantas corridas?” Eu vou logo responder:  "aqui em Natal, é para fazer figura e infernizar ”
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