Wellington Duarte
Professor, economista, Cientista Politica, comunista, headbanger, flamenguista, americano e apreciador de Jack Daniels
27/11/2024 07h57
O punhal no coração da democracia brasileira: a urdidura do crime golpista
A divulgação do macabro plano de assassinar um presidente e um vice-presidente, eleitos, além de um membro do Supremo Tribunal Federal (STF), com a liderança de um presidente e vice-presidente, em exercício, revela o quanto a tão decantada “democracia brasileira” é manca, sofrível e frágil.
Temos, nas mãos um dos arquivos mais completos de uma tentativa de golpe, que a sociedade já teve acesso. Essa chusma golpista, cujo linguajar é, de fato, a marca registrada da horda fascista-bolsonarista, tramou tomar o poder e instalar, depois de trinta e nove anos de capenga democracia, uma nova tutela militar, e a abertura do processo ao público, serve para calar os incautos delirantes, que ainda tentam justificar o injustificável, típico dessa gentalha.
Entretanto não deveríamos nos surpreender com o que está exposto nesta farta documentação, afinal de contas, as forças armadas, especialmente o Exército, se considera “tutor” da democracia brasileira, seja lá qual for, e isso está amplamente relatado nas centenas de pesquisas e livros, que relatam o quanto os quarteis atormentam nossa sociedade.
Antes que algum celerado venha com o discurso de “respeito às forças armadas”, é preciso deixar bem claro que o papel de uma força armada, depende muito do que é uma sociedade e quanto menos ela “aparecer” na história destas, mais forte é a democracia, representativa ou não, e, por conseguinte, a ladainha de que criticar o monturo militar que planejou o golpe, não se sustenta.
E que não se diga que o resultado da investigação é simplório. Ela começou em 26 de junho do ano passado e são mais de 870 páginas, que revelam como essa bandidagem atuou, sob o manto protetor do presidente da república e seus asseclas, muitos deles oficiais de alta patente e lendo o relatório, não tem como deixar de lembrar da obra de René Armand Dreifuss “1964: a Conquista do Estado”, publicado em 1987 e que tem mais de 800 páginas, em que se mostra como se urdiu o Golpe Militar de 1964.
A história quase se repetiu como tragédia, mas não deixa de ser uma realidade: há um DNA golpista nas forças armadas. Basta um simples rastreio para nos depararmos com uma série de intervenções, diretas e indiretas, das forças armadas, que começam com o golpe de novembro de 1889, chamado eufemisticamente de “Proclamação da República” e, ao longo das décadas, o chamado “poder militar” se colocou como tutor da sociedade, baseado no positivismo e atazanou o povo brasileiro.
Segundo o relatório da Polícia Federal (PF), Jair Bolsonaro foi o líder dessa gangue golpista, embora alguns caras-de-pau tenham vindo à público, tentar “passar o pano”, inventando justificativas que beiram ao patético, para tentar salvar essa figura patética que só existe historicamente devido a fraqueza dessa democracia de araque, cujo controle está nas elites, iletradas e sequiosas de lucros extorsivos, e que nessa sanha de ter o poder para se locupletar, anima os bandos, principalmente aqueles que infestam as redes sociais.
A dissecação dessa trama pode, ou não, servir para mudar, em definitivo, o papel das forças armadas na nossa democracia. Ou se mudar o teor da formação militar, hoje ancorada num pensamento ultrapassado, que vê, ainda, um “inimigo interno”, ou se mantém essa espada de Dâmocles sobre nossa sociedade, que se arrepia ou se excita, sempre que os fardados resolvem expor suas opiniões publicamente.
Vamos ver o que virá a seguir.
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