Andreia Braz

09/02/2021 00h04
 
Minha casa
 
 
 
É o homem mais feliz, seja ele rei ou camponês, aquele que encontra paz em seu lar.
                                                                                                               Johann Wolfgang von Goethe
 
 
Moro numa casa simples, mas muito aconchegante. É uma casa pequena, com dois quartos, sala, cozinha e banheiro. O espaço é mais do que suficiente para quem nela vive: eu e mais dois rapazes, um sobrinho e um amigo (Vinicius e Adjael). Minha casa tem duas coisas que considero fundamentais para o meu bem-estar: luz do sol e espaço para meus livros, embora estes ainda não estejam devidamente organizados como deveriam. Gosto de ambientes iluminados, porque são mais agradáveis, arejados, e esse é um dos motivos que me fazem gostar dessa casa onde moro há dois anos. 
 
Adoro sentir a luz do sol nas primeiras horas da manhã! Quanto ao espaço para os livros, é outro motivo de felicidade porque antes de viver nessa casa morei numa quitinete onde precisava dividir espaço com os livros na hora de dormir (o que não é nada bom para uma pessoa alérgica à poeira), sem contar os que ficaram encaixotados por um bom tempo, justamente por falta de espaço. 
 
Dizem que a casa é o retrato do dono, e nesse aspecto minha casa diz muito de quem sou (ou talvez de quem gostaria de ser). Há livros espalhados por todos os lados. No sofá, na cozinha, no banheiro, no quarto de dormir… Afinal, “uma casa sem livros é um corpo sem alma”, como disse o filósofo Cícero. Geralmente, leio mais de um livro ao mesmo tempo. Esta semana, por exemplo, estou lendo Sobre a escrita: a arte em memórias, de Stephen King, e Por um fio, de Drauzio Varella. Livros de crônicas, contos e poemas estão sempre espalhados pela casa, pois adoro essas leituras mais rápidas, digamos assim, quando tenho muito trabalho ou estou cansada para leituras mais densas, mas não quero deixar de ler. O momento em que mais gosto de ler é antes de dormir. São raras as noites em que não faço isso. Às vezes, também leio de madrugada, quando tenho insônia, o que é raro acontecer, ocasiões em que escrevo bastante. 
 
Gosto muito da minha casa, por diversos motivos, mas acho que o principal deles é a paz que encontro em meu lar. Minha casa é sinônimo de tranquilidade, de reflexão. É também o lugar onde aprecio a solidão, sim, porque às vezes tudo que a gente precisa é de um pouco de silêncio, de paz, de um momento para ficarmos a sós com nós mesmos, sem achar que estamos abandonados ou que não temos com quem contar. Afinal, como diz a canção de Gilberto Gil, “eu preciso aprender a ser só”, recolhida em minha solidão. E não falo apenas dessa solidão necessária para os momentos difíceis, quando terminamos um relacionamento, por exemplo, mas também de uma solidão produtiva, daqueles momentos necessários para ler, escrever, ouvir música, ou mesmo para não fazer nada. Sim, porque às vezes também é preciso não fazer nada e deixar a vida seguir seu curso, como faz o rio.
 
É certo que minha casa ainda não está da forma como eu gostaria, o que não me deixa infeliz ou insatisfeita com o lugar onde moro. Pelo contrário. Se hoje não posso decorar minha casa como gostaria, por exemplo, posso usufruir do espaço que tenho, inclusive para planejar e sonhar com o lar que desejo. Acho perigoso esse lance de focar naquilo que não temos, pois quando isso se torna uma constante em nossa vida deixamos de aproveitar o momento, de “viver o que há para viver”, como diz a canção de Lulu Santos. Prefiro seguir o conselho do mestre Rubem Alves: “Quem sabe que o tempo está fugindo descobre, subitamente, a beleza do momento que nunca mais será”.
 
Procuro fazer da minha casa um lugar aconchegante, pois é ali onde passo a maior parte do meu tempo, tendo em vista que trabalho em casa diariamente, inclusive nos finais de semana e feriados, quando tenho algum trabalho urgente para entregar ou quando preciso receber algum cliente para discutir a revisão de um livro ou de um trabalho acadêmico, por exemplo. Meus dias seguem assim, rodeada de palavras por todos os lados, e isso é parte da minha alegria de viver.
 
Além do desejo de ornamentar minha casa, penso em ter um ambiente em que não haja excessos, seja em relação a roupas, calçados, utensílios domésticos, isso me incomoda um pouco tanto pela parte estética em si como também, e principalmente, por pensar que sempre é possível dividir o que temos, e de que não precisamos tanto, mas apenas do suficiente para nossas necessidades. Para Sêneca, “pobre é quem precisa de muito”. 
 
Outra coisa que espero conseguir daqui a alguns anos é comprar uma casa maior, para receber com mais conforto amigos e familiares, tanto de Natal como de outros lugares, e quem sabe abrigar algum amigo que precise de um lar por algum tempo e não tenha condições de pagar isso. Para mim, casa é sinônimo de acolhimento.
 
Desejo, também, que a minha casa continue sendo meu lugar predileto, para onde volto feliz todos os dias, o lugar onde encontro minha paz, mas também onde posso viver meus momentos de angústia e solidão. Quero viver sempre numa casa feita “com muito esmero”, uma casa cheia de luz, tranquilidade e alegria.
 
 
 

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