Andreia Braz

09/11/2021 09h18

 

A magia da paixão

 

"Neste mundo de tantos anos

Entre tantos outros

Que sorte a nossa, hein?

Entre tantas paixões

Esse encontro, nós dois, esse amor"

Vanessa da Mata

 

Nada é mais encantador que o início de um relacionamento. A expectativa do novo encontro. A saudade do beijo, do abraço... A alegria do reencontro. A troca de olhares. O riso bobo. A sintonia. As pequenas descobertas. A troca de mensagens. O desejo constante da partilha. Conversas ao pé do ouvido... Confidências. Os medos bobos de que algo possa desagradar o ser amado. Os planos para o futuro...

E assim começa uma história de amor. Uma história que pode evoluir para um namoro ou algo mais sério. Uma história que pode ser simplesmente uma história de amor. Afinal. Rótulos não combinam com amor, pois, “O amor foge a dicionários. / E a regulamentos vários”, como dizem os versos de Drummond. O que importa é viver e se deixar levar pela magia do encontro. É exatamente isso que quero fazer, pois “os momentos felizes não estão escondidos nem no passado e nem no futuro”, como nos ensina a canção de Marina Lima. 

Vamos a mais uma história de amor. Uma história de encontros e desencontros. Uma história que teve início em 2019. Voltemos no tempo.

Dezembro de 2019. A primeira vez que nos vimos. Era uma tarde quente de sábado e fui assistir um show de Analuh Soares no Centro Histórico. (Na noite anterior eu havia ido para o Festival de Jazz de Parnamirim e lá recebi o convite de duas amigas para o evento daquele sábado, uma mostra gastronômica de comidas de terreiro). Acabei me distanciando um pouco das meninas para apreciar mais de perto a performance da artista. Foi nesse momento que nossos olhares se cruzaram. Trocamos algumas palavras sobre o show, a performance e a beleza estonteante da cantora. Adorei o estilo dele (estava usando bermuda, camiseta e All Star). Também gostei do cabelo grisalho e dos olhinhos apertados. Lembro de ter perguntado se ele tinha alguma descendência oriental. No meio da conversa ele me ofereceu uma cerveja. Preferi uma água. Raramente consumo bebida alcoólica. Seguimos conversando e curtindo o som. Terminado o show, nos despedimos e segui para outro evento, o show de Martinho da Vila, onde fui encontrar outro grupo de amigos. Uma noite de festa. Um tributo ao samba. Dois shows de samba numa mesma noite, que alegria! Meu desejo era continuar aquela conversa... Trocamos telefone e cada um seguiu o seu caminho.

Depois daquele dia passamos a conversar pelo WhatsApp e eu sempre mantendo a esperança de que haveria um novo encontro. Estávamos no final do ano e achei que no mês de janeiro teríamos uma chance de nos conhecer melhor. Pensei: “é final de ano, ele deve estar com muitos compromissos familiares e tal”. Mas o convite não veio e acabou chegando a pandemia, que bloqueou qualquer chance de um reencontro. Mesmo assim, continuamos conversando por telefone e ele começou a me fazer alguns agrados. Vez por outra, preparava um almoço e mandava entregar em minha casa. Achei tão delicado aquele seu gesto. Ele é vegetariano, assim como a filha mais nova, e faz pratos muito saborosos. Aliás, admiro seu amor pela culinária e a delicadeza com que prepara as refeições. Lembro, especialmente, de uns bolinhos de soja e de uma sobremesa irresistível que ele adora fazer, doce de leite. Meu aniversário daquele ano teve um sabor especial. Dessa vez ele encomendou um prato e o restaurante fez a entrega. Veio até a sobremesa. “Estranho seria se eu não me apaixonasse por você”...

Depois de algum tempo as mensagens foram rareando e as conversas virtuais também. Lembro de ter comentado isso com uma amiga. Sentia falta da nossa comunicação, mesmo que ela fosse apenas virtual. Eu o sentia tão perto de mim. Em diversos momentos ele me deu conselhos importantes e se mostrou afetivo, acolhedor, estando sempre disposto a ajudar no que fosse preciso. Atitudes de um companheiro, mesmo sendo apenas um amigo com quem eu mantinha uma comunicação basicamente virtual. Isso me cativou bastante. Quando ele “sumiu”, pensei em lhe escrever um e-mail para saber o que estava acontecendo. Acabei desistindo da ideia e segui meu caminho, respeitando a escolha dele. Fiquei sem entender a atitude dele, pois respondera minha última mensagem de forma distante/lacônica e aquele seu gesto foi suficiente para eu ficar na minha. Não sou de insistir quando percebo que algo não vai dar certo. Mas o desejo de reencontrá-lo ainda existia. 

Quase dois anos depois do nosso primeiro e único encontro presencial, estou eu curtindo uma noite de sábado no Bardallos com dois amigos, Marcos e Saul, e decido sair um pouco para tomar um ar e ver o movimento da rua. O inesperado acontece. Dou de cara com Lula e ficamos sem acreditar naquele encontro. Impossível descrever nossa expressão de surpresa/alegria perante aquele momento. Ele me confessou que estava indo embora quando um amigo insistiu para que ficasse mais um pouco e fosse ao Bardallos. “Mais cinco minutos e não estaríamos aqui”, ressaltou. Disse, também, que havia me procurado quando chegou no samba. Detalhe: eu havia chegado um pouco tarde para encontrar os meninos porque estava no aniversário de uma amiga. O que me salvou foi uma carona que surgiu de última hora. Foi tão bom ficar pertinho dele, olhar nos seus olhos... Nenhum dos dois acreditava que aquele encontro era real. 

Depois de muitos abraços e sorrisos, alguns beijos e muito carinho, cada um segue seu destino com a promessa de um novo encontro no sábado seguinte. Dessa vez assistiríamos juntos um tributo a Raul Seixas, organizado pela Sociedade dos Amigos do Beco da Lama e Adjacências (SAMBA). Foi uma noite muito agradável. O clima chuvoso conferiu um ar romântico àquele momento. Guardo ótimas lembranças dessa noite. Nossa primeira foto. Nós dois abraçados, ele tentando me ensinar a dançar. Nossas conversas. Quando tocou a música “Prelúdio”, estávamos dançando coladinhos e foi tão mágico aquele momento. Versos que eternizaram aquele instante: “Sonho que se sonha só / É só um sonho que se sonha só Mas sonho que se sonha junto é realidade”.

No sábado seguinte, um outro show, dessa vez no Bardallos, palco do nosso reencontro, digamos assim. Curtimos o show “Saudade da Bahia”, com Clara Pinheiro e convidados (Tal Pessoa, Ayra e Persie). Uma noite de muita alegria e muito axé. Uma noite que ficou registrada pelo meu amigo Jefferson Dantas. Não me canso de olhar aquelas fotos! Coisa de gente apaixonada, né? Eu sei. Embora seja tímido e não goste muito de fotos, Lula compreende que elas são um registro importante para eternizar alguns momentos. E assim nossas memórias afetivas vão se construindo. Depois, fomos, por acaso, ao bar da minha amiga Izabel Câmara e sua companheira Vitória, o Rocket Bar, em frente ao Bardallos. Detalhe: estávamos indo embora quando Vitória nos viu parados na porta do bar vizinho e perguntou se gostaríamos de entrar. Foi a melhor escolha. Assim pudemos conversar um pouco mais. Quero voltar para curtir um som naquele lugar e tomar o caldo de camarão preparado por Izabel. 

No último sábado, mais um encontro. Fomos à AABB e depois seguimos para o bom e velho samba no Centro Histórico. Um dos encontros dessa noite foi com o artista plástico Francisco Eduardo, amigo de longa data cujo trabalho admiro muito e gostaria que Lula também conhecesse. Conversamos bastante e a sintonia entre eles foi imediata. Ficamos de fazer uma visita ao atelier de Eduardo qualquer dia desses e combinar um dia para tomar uma cerveja e continuar aquele papo sobre arte, viagens, música...

À medida que o tempo passa, aumenta a certeza de querer estar com ele. Aumenta o desejo de estar perto, de conhecê-lo melhor, de partilhar com ele as melhores coisas da vida. Alguns planos de passeios, shows, viagens... Por que não? Às vezes, também bate aquela insegurança e me pergunto: “será que vai dar certo?”. E no meio dessas (in)certezas, nossas afinidades e o desejo de estarmos juntos estão ajudando a construir algo bonito e verdadeiro. Quanto tempo isso vai durar? Não sei. Sei que a felicidade mora nas coisas simples e queremos seguir juntos, caminhando de mãos dadas e abraçados pelas ruas da cidade, como a dizer que a felicidade bateu à nossa porta e não queremos deixá-la escapar. Que o samba continue embalando o nosso amor e que a alegria seja o motivo de estarmos juntos. “Vem meu novo amor / Vou deixar a casa aberta / Já escuto os teus passos / Procurando o meu abrigo” (Helton Medeiros e Hermínio Belo de Carvalho).

 


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