Mônica Cavalcante

Professora e feminista

06/09/2022 10h47

PARA QUEM FALAMOS?

 

Nos muitos espaços e diálogos que construímos, participamos e somos espectadores, constato: as atenções são primeiramente dispersadas às patentes, aos títulos, às ocupações das pessoas presentes. Um tanto normal para uma sociedade muito hierarquizada como a nossa.

O que não considero “normal” são as ausências de grupos não-hegemônicos em rodas maiores.

E me ocorre uma questão: nossas bandeiras de lutas são defesas e causas coletivas, universais e inclusivas ou são uma imersão de nossas experiências e dores?

E eis que surge a temática sobre lugar de fala e representatividade, conceitos popularizados depois que a filósofa Djamila Ribeiro lançou o livro “O Que É Lugar de Fala?”

Frequentemente usadas como sinônimas, MAS NÃO SÃO. LUGAR DE FALA E REPRESENTATIVIDADE, são ideias que se complementam.

LUGAR DE FALA se refere à discussão de poder a partir da localização de um indivíduo dentro da estrutura social. Em outras palavras, é a forma como cada pessoa se posiciona e debate questões sociais a partir do seu lugar social. Não se trata da experiência individual, mas das experiências comuns à grupos.

REPRESENTATIVIDADE amplia a potência da voz de grupos sociais geralmente silenciados. Nesse conceito se trabalha também o lugar de escuta, associado ao lugar de fala, ao permitir que grupos excluídos do debate falem.

A má interpretação das ideias de lugar de fala e representatividade gera uma falsa associação à censura.

E eis que meu senso crítico em forma de sincericídio ataca novamente, porque o meu feminismo faz uma pergunta que não se cala em mim: o feminismo cheio de derivações e pautas é INCLUSIVO?

Esta última palavra tem um significado específico e importante. A Pessoa com Deficiência.

E vamos recortar mais. A MULHER COM DEFICIÊNCIA.

Não, não tenho vivência suficiente e nem propriedade para este debate, apenas senti-me instigada a promover a provocação de quem possa nos ajudar a entrar e compreender este debate tão INVISIBILIZADO.

O que exponho aqui, contraditoriamente, é a AUSÊNCIA dessas mulheres nas atividades organizadas que participamos e construímos na marcha pelos direitos das mulheres.

Elas estão lá, na sua ausência, quando falamos de violência. E eu começo pela violência da invisibilidade.

Elas estão sendo violentadas nos seus direitos à AUTONOMIA a uma vida em plenitude de direitos básicos e com dignidade humana, pois lhes são negados por falta de aparelhamento e infraestrutura inclusiva.

Mas, se essas mulheres NÃO ESTÃO LÁ, lhes faltam o LUGAR DE FALA. Se essas mulheres não ESTÃO NAS NOSSAS PAUTAS, lhes faltam REPRESENTATIVIDADE.

FEMINISMO É SOBRE QUEM EMPODERAMOS.

PALAVRA AMPLA E QUE AMPLIA CONCEITOS E ATITUDES.

Nesse espaço temos um compromisso: SER MULHER E O QUE ELA QUISER!

 


*ESTE CONTEÚDO É INDEPENDENTE E A RESPONSABILIDADE É DO SEU AUTOR (A).