Mônica Cavalcante

Professora e feminista

09/04/2024 06h34
 
Crônica de Uma Vida Tecida em Lutas e Convicções
 
O título remete de forma explícita que esta crônica versará sobre essa que vos escreve. Mas nunca foi diferente. Primamos sempre pelo conteúdo que nos move os pensamentos e, consequentemente, um tanto sobre mim.
 
Vivendo Parnamirim desde 2008, aos 45 anos, encontro-me refletindo sobre a jornada que me transformou em uma ativista nos movimentos antirracista e de mulheres. Meu envolvimento, que tomou forma organizada em 2017, foi mais do que uma escolha; foi um chamado que ressoou em minha essência, impulsionado pela necessidade de mudança, igualdade e justiça.
A história de cada uma pessoa, além de única, ela é contada muito mais por suas ações, mediações, exposições, defesas, ideias. Isso é o que chamamos de trajetória.
 
Recentemente, um jovem estudante universitário, em busca de completar uma atividade para a disciplina de Sociologia, me procurou. Ele queria entender os movimentos sociais através da lente da minha trajetória ativista, social e política. Foi nesse momento que me dei conta da profundidade e do impacto social da minha jornada. Quando estamos imersos na construção e promoção de mudanças sociais, os holofotes e as mídias são o que menos importam. Senti-me honrada em falara sobre os movimentos sociais e minha trajetória ativista, social e política.
 
Nem havia me dado conta de tanto tempo de trajetória, de tanta relevância e impacto social. Acho que por conta que quando estamos de fato imersos no debate e na construção enquanto agentes de promoção e mudança social, não nos importam os holofotes e as mídias. Esta crônica, embora se desenrole sob os holofotes da minha trajetória, não é uma narrativa que busca os refletores. Sempre me movi pelas correntes que agitam os pensamentos e, inevitavelmente, por aquilo que sou. Cada pessoa carrega uma história única, escrita não apenas por palavras, mas por ações, defesas, ideias — é a nossa trajetória.
 
Mas sim, sou testemunha, que enquanto servidora pública concursada, e, portanto, nunca vi meu trabalho como um favor à sociedade, mas sim como um compromisso que assumi e pelo qual sou remunerada, sinto-me realizada e tranquila, embora às vezes me pergunte se devo mais, por não ter um alcance tão amplo, visibilidade ou seguidores.
 
A luta que abracei, ao lado de meus camaradas de causa, é ampla e profunda. No movimento antirracista, lutamos pela valorização da cultura afro-brasileira e contra a violência racial. No movimento de mulheres, buscamos a igualdade de gênero, o fim da violência contra meninas e mulheres, e a garantia de sua emancipação e representatividade em todos os espaços da sociedade.
 
Minha entrada nesse movimento foi inusitada, impulsionada pela participação ativa de minha filha e de muitas crianças e adolescentes que fui professora em um movimento estudantil grande, generoso e formador de cidadania e participação social ativa. Esse envolvimento despertou meu interesse pelas questões sociais e de Direitos Humanos, levando-me ao Mestrado em Antropologia Social pela UFRN.
 
A transformação pessoal foi profunda. De uma compreensão superficial, tornei-me uma ativista com uma visão ampliada sobre as complexidades das desigualdades. A maior lição dessa jornada é a crença na mudança, sustentada pela resiliência, solidariedade e educação.
 
Os desafios persistem, mas a determinação de seguir adiante é inabalável. Inspirada pela certeza de que a união por uma causa justa pode, de fato, mudar o mundo, continuo minha luta, tecida da mesma malha de trabalho, honradez e compromisso que me trouxe até aqui. A vida, acredito, deve ser uma busca incansável por justiça e dignidade para todos.
 

*ESTE CONTEÚDO É INDEPENDENTE E A RESPONSABILIDADE É DO SEU AUTOR (A).