Mônica Cavalcante

Professora e feminista

15/11/2022 10h38

 

Consciência por que? (Parte II)

Na retomada e continuidade do tema referente ao mês de novembro alusivo ao movimento, que como dito no texto anteiro, surge com a partir da instituição DIA NACIONAL DE ZUMBI E DA CONSCIÊNCIA NEGRA, objetivando a reflexão sobre a importância do povo preto na sociedade, do reconhecimento do valor, da cultura e da luta de pessoas pretas.

A questão de agora é POR QUE?

A origem

O dia 20 de novembro tem uma representação simbólica muito forte para a história da luta antirracista. É o dia da morte de Zumbi dos Palmares, principal liderança quilombola do país, morto na serra da barriga em 1695, emboscado por tropas portuguesas. Zumbi era líder do maior quilombo da história do Brasil. Palmares era uma cidade, um estado livre dentro do território colonial português. Refúgio daqueles que escapavam da escravidão, o quilombo era símbolo de liberdade e Zumbi um símbolo de resistência à escravidão e posteriormente de luta pela igualdade racial.

1888. O Brasil foi o último país das Américas a abolir com a escravidão.

O fim do uso da mão de obra escrava em nosso país não foi resultado do humanismo ou da benevolência da família real brasileira, conforme muitos acreditam, mas aconteceu porque um grande número de pessoas de nossa sociedade mobilizou-se para forçar o Império a pôr fim ao trabalho escravo, incluídos nessa luta homens e mulheres, que rebelados tomavam o controle da propriedade na qual eram escravizados e matavam seus senhores. Em muitos locais, os escravos organizavam-se para se rebelar nos “dias santos”, isto é, dias de festas religiosas ou de missas. Tudo isso reforça uma visão trazida pelos historiadores de que os escravos foram agentes ativos na luta pela emancipação.

De lá para cá, a luta é para que o indivíduo possa se identificar com as tradições e valores culturais que remetam às suas raízes afrodescendentes, além de tomar consciência da violência que os negros sofrem e sofreram historicamente tanto no Brasil como em outras partes do mundo, a partir do autorreconhecimento do indivíduo como negro.

No dia 9 de janeiro de 2003, foi estabelecido no calendário escolar brasileiro o Dia da Consciência Negra, pela Lei nº 10.639, além da implantação do Art. 26-A: “nos estabelecimentos de ensino fundamental e médio, oficiais e particulares, torna-se obrigatório o ensino sobre História e Cultura Afro-Brasileira”. 

Segundo dados do censo do IBGE (2010), a população negra compõe 55% do território brasileiro. E, mesmo assim, ainda ocupa os menores cargos do mercado, ganha salários inferiores aos brancos, possui uma menor probabilidade do acesso ao nível superior e a taxa de desemprego entre eles cresceu de 14,5% para 14,9% no ano de 2019. A taxa de analfabetismo é de 9,9%, enquanto dos brancos é de 4,2% (PNAD 2016). Em 2016, 1.835 crianças de 5 a 7 anos trabalhavam; 63,8% delas eram pretas ou pardas (PNAD).

Um debate de luta e reflexão, com princípios de uma reparação histórica ainda sem sucesso ou efetivação, num Brasil onde 70% das vítimas de assassinatos no país são pretas, além de serem 64% da população carcerária.

O Brasil tem os piores índices de escolaridade, renda, emprego e moradia. 75 por cento de nossa população em extrema pobreza é negra. É um índice acima da composição desta população na sociedade brasileira que é de 56 por cento. Além de estar em maiores condições de vulnerabilidade sócio econômica, população negra é a que mais sofre vítima de violência. Segundo o Mapa da violência 2021 (IPEA), 77% das vítimas de homicídio no Brasil são negras. Um negro tem 2,6 vezes mais chances de ser assassinado do que um não negro. Na violência contra a mulher, 67 por cento das mulheres mortas eram negras.

A escrita de hoje, sobre CONSCIÊNCIA (NEGRA) POR QUE?, foi construída por meio de dados e informações da História. NÃO SÃO APENAS AS MINHAS REFLEXÕES.

E se elas não justificam o porquê de se ter consciência acerca de que a vida, a cultura, a dignidade das pessoas negras importam, então elas são apenas letras e números.

O AFROEMPODERAMENTO É NECESSÁRIO.

 
*ESTE CONTEÚDO É INDEPENDENTE E A RESPONSABILIDADE É DO SEU AUTOR.

*ESTE CONTEÚDO É INDEPENDENTE E A RESPONSABILIDADE É DO SEU AUTOR (A).