Jornalista
Eu espero a tristeza passar
Falando sobre meu processo de criação literária, numa atividade que eu participei outro dia com as minhas colegas do Mulherio das Letras, abordei sobre o exercício da escrita enquanto duas falaram sobre acesso ao mercado editorial e outra sobre a dificuldade de expressar seu pensamento com liberdade por conta de sua origem cigana. Lá eu disse algo bem ao contrário do que ocorre com muita gente que usa a escrita como um desabafo, fato que tem gerado muitos diários, como os famosos cadernos de Anne Frank, a judia que passou dois anos escondida dos nazistas, em plena segunda guerra, na capital holandesa.
Procuro escrever sobre as coisas simples do dia a dia, pois para mim refletem as coisas boas da vida. O capital é algo tão precioso para a maioria das pessoas, que realmente fico admirada com a naturalidade com que alguns seres se entregam ao próprio consumo. Nunca ganhei tanto dinheiro assim, então sou mais econômica e realmente acho interessante consumir coisas baratas. Ou de graça, de modo que quando paro para escrever, procuro assuntos triviais ou amenos, para passar uma mensagem de paz, de amor, de tranquilidade. Claro que eu já escrevi muita coisa “na força do ódio”, mas é um tipo de escrita ativista, cujo propósito é exatamente esse, chamar a atenção para algo que me deixou “emputecida”.
Eu espero a tristeza passar. Aguardo meu estado de espírito ficar leve novamente, até que começo a escrever. E sendo assim, hoje me ocorreu de falar sobre o exercício da escrita. Considero importante escrever, inclusive para desabafar. Na adolescência eu também tinha meus diários. Sendo que acho mais importante passar uma mensagem de otimismo. E de uma forma ou de outra, somente o exercício nos dirá qual o caminho que devemos seguir. E assim, procuro passar até receitas de bolo por meio de meus devaneio literários, visto que são informes que estão relacionados ao meu jeito simples de ver as coisas.
Lá na nossa roda de conversa na Feira de Literatura e Quadrinhos (FLIQ), estávamos eu, Albaniza Ivanovichi, Kalina Paiva e Sílvia Brito, sob a mediação de Rejane Souza – nossa coordenadora. Aproveitei e falei sobre minha porção contista. Foi massa falar com tanta naturalidade sobre literatura erótica, ofício que para os homens parece ser muito mais fácil, pois não são julgados como “homens da vida”, ao contrário do que ocorre com as mulheres.
Rimos muito até mesmo dos trocadilhos - “o primeiro conto veio depois de uma sentada”, eu relatei, após eu ter sido cobrada pelo editor que havia me convidado a integrar uma coletânea. A colega cigana também foi desafiada por um amigo e assim saiu seu primeiro poema, o qual ela classifica ainda como muito inocente. E assim, concluímos que o Mulherio precisa tirar dos pensamentos mais escondidos das nossas escritoras os contos, os poemas e até mesmo cordéis com a temática do erotismo. E para isso, espero que estejamos todas felizes. Porque para escrever sobre os prazeres carnais, o mais adequado é que estejamos livres, leves e soltinhas.
Saindo do evento, eu estava pensando com meus botões que não comprara nenhum livro. E ao passar pelo estande da editora Escribas, vejo uma publicação assinada por Lu Medeiros. “Os homens não são tão fortes; as mulheres não são tão santas”. E me chamou a atenção pela própria natureza de nossa discussão. Chequei se era a autora era uma psicóloga, minha contemporânea da UFRN, e confirmei que sim. Comprei o livro e o li em uma manhã de sábado. E percebi que ela provavelmente deixou a tristeza passar para escrever o livro. Leve, elucidativo, cheio de introspecções e verdadeiro. Recomendo.
*ESTE CONTEÚDO É INDEPENDENTE E A RESPONSABILIDADE É DO SEU AUTOR (A).
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