Eliade Pimentel

Jornalista

02/09/2024 12h46
Desacelerar para não surtar, anotar para não esquecer
 
 
Houve um tempo em que toda semana, às segundas-feiras, eu acordava passando mal, enjoada, sem querer ingerir nada, a não ser me entupir de café e água. Era um aperto, uma agonia, até que passava, assim, por milagre, ao final do dia. Certa vez, tive uma crise tão forte de candidíase, que corri ao pronto-socorro da Maternidade Escola Januário Cicco, e, ao ser examinada pelo professor Iaperi Araújo, para uma turma de residentes, eu mesma já identificara o problema daquele excesso de secreção que aparecera “do nada”, antes mesmo de formandos responderem. 
 
Uma forte crise fúngica causada por ela, a famosa correria do dia a dia, que nos leva a péssimos hábitos, associados a roupas apertadas, mais as agonias relatadas. Uma coisa leva a outra. Os sintomas físicos que eu relatei no início são causados pela ansiedade. A proliferação exagerada do fungo cândida albicans advém de fatores emocionais, por é uma doença psicossomática. Depois de sofrer com crises recorrentes e também apresentar outros sintomas, descobri que tenho doença autoimune chamada “Doença de Behçcet”, que é uma alteração no sistema imunológico tratada pela reumatologia. 
 
O médico que me diagnosticou falou para eu dar risadas diante dos problemas. A colega dele, que passou a me acompanhar, disse para eu fazer terapia e alguma atividade física. Na época, fiz dança contemporânea e ballet clássico. No dia a dia, minha vida passou a fluir, pois aprendi a dominar meus anseios, a educar meus medos, e, principalmente, anotar para não esquecer as tarefas, sinalizando as prioridades, ticando o que estava feito, fazendo na hora que lembrava, para não deixar para depois. Planejar para não falhar. Esse é meu lema. Ao participar de uma reunião de trabalho, já vou pensando as soluções ali pensadas em conjunto. 
 
Sistematizo as ideias, coloco em documento, salvo em nuvem a maioria das minhas tarefas e atribuições, nem que eu mande para mim mesma pelo e-mail, porque já fica salvo, caso alguém precise.  Seja no trabalho da comunicação, no aluguel de casa para temporadas, ou na venda de bolos, que eu nunca mais fiz para vender, mas procuro força para voltar, pensar o que tem que ser feito, arregaçar as mangas e fazer, estabelecendo as prioridades, compõem meu modus operandi e ajudam a eliminar os possíveis vestígios de ansiedade ou de outro problema de saúde causado pelas agonias da vida. 
 
Quando Alice era menor, uma amiga perguntou o que me causava ansiedade, eu respondi por exemplo que acordar sem previsão de café da manhã e lanche, pois isso demandaria acordar mais cedo, ir até a padaria para comer a comprar alguma coisa para ela leva à escola. E ainda mais, na padaria, tudo era mais caro, ou seja, demandaria ter aquela verba extra. De modo que, quanto mais nos planejamos, mais qualidade de vida teremos. E damos um adeusinho às agonias. Eu consigo me antecipar aos fatos e necessidades, então geralmente o que depende de mim, caminha sem grandes atropelos. 
 
Dizendo assim, parece que sou exímia em solução de problemas, em gestão de crises, mas não, também tenho meus “rabos presos”, como um ou outro texto que esbarra na falta de criatividade associado a um prazo muito extenso (que faz a pessoa procrastinar). Porém, mesmo diante desses probleminhas, eu procuro listar as prioridades dentre as matérias atrasadas. E assim, vou seguindo, sem levar carão de chefe por falta dessa ou daquela tarefa. Quando me passam alguma coisa, geralmente estou ciente. Ah, você é virada num traque! 
Não e sim. Sim e não. Porque tem horas que também não quero pensar em nada. Sendo que, quanto mais eu me adianto, menos eu sofro, porque o que mais corrói o juízo da gente são as cobranças. Fulana, onde está isso, já terminou aquilo, é pra ontem! E assim por diante. Por isso eu sempre falo que devemos tomar ciência do que temos a fazer, avaliar o grau de dificuldade, caso haja, procurar ajuda em tempo hábil, e não quando o circo já pegou fogo. Para tudo na vida, há uma solução, a não ser para a morte. Aliás, a morte é a finitude dos problemas. Pelo menos, para quem partiu. 
 
Para evitar transtornos de ansiedade, tão comuns nos dias de hoje em que tentamos abraçar o mundo com as pernas, a principal recomendação é não ficar calado diante dos problemas, ou jogar pra debaixo do tapete, porque essas atitudes não vão ajudar em nada. A outra coisa é pensar sobre quem ou o que vai ser prejudicado com a falta de organização do seu tempo. Quando a pessoa é estudante e deixa de fazer tarefa, prejudica o seu desempenho. No máximo, prejudica colegas quando o trabalho é em grupo. 
 
Mas, quando a desorganização atinge o ambiente de trabalho, outras pessoas ficam sobrecarregadas ou a instituição/empresa é prejudicada. Pense nisso. No mundo adulto, você vale o que você produz. 
 
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Eliade Pimentel é jornalista, graduada pela UFRN, com larga experiência em jornalismo cultural, assessoria de imprensa, comunicação estratégica e comunicação em rede. Atua como Assessora de Comunicação na Fundação José Augusto (Governo do RN). Mãe de Alice, amante de Baía Formosa e Pium, ativista social, cultural e ambiental, autora de contos eróticos e cronista deste portal.  
   
 

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