Eliade Pimentel

Jornalista

10/09/2024 11h19

Vesperais de sábado no centro histórico de Natal

 

Até certo tempo atrás, eu via as divulgações dos eventos que são realizados aos sábados, na capital potiguar, e pensava, até com uma certa pena do público participante: poxa, esse pessoal não tem uma praia para ir aos finais de semana? Ou, pior, deixa o povo que não tem praia ir, pois eu mesma não tirarei o meu pé da areia. Mas, de uns dias para cá, tenho eu me programado para estar na Cidade Alta e arredores a fim de frequentar tais agendas, que são geralmente exposições e lançamentos de livros. São momentos que eu apelidei, com todo carinho, de “vesperais de sábado”.

Não vou a todos, porque realmente eu tenho outras praias para ir aos sábados e domingos, apesar de que muitas vezes eu tenho é ficado em casa mesmo, sentindo apenas a brisa marinha, pois minha vida flui sempre em ambientes litorâneos. Geralmente funciona da seguinte forma: a depender da agenda, eu me animo ou desanimo e já me programo, quando sei que o nível de nostalgia será do jeito que eu gosto – ou seja, irei (re)ver pessoas queridas, muitas das quais praticamente tenho notícias pelas redes sociais e olhe lá.

Na Pinacoteca do Estado, situada à praça Sete de Setembro, quem está agitando esse horário é o promotor e colecionador de artes, Manoel Onofre Neto, que tem atuado como curador das benditas exposições que são inauguradas aos sábados. Dessa leva, mesmo atrasada (é uma dificuldade tremenda, quase um sacrifício, eu pegar esse rumo), tive a satisfação de participar do lançamento do livro “Um Tempo de Arte”, de Selma Bezerra, uma artista que no alto dos seus 80 anos está dando um banho no povo (nem tão) jovem como eu, de tanto que sua mente fervilha.

Como eu previra, foi ótimo, encontrei tanta gente linda, tanta gente bacana, tomei umas taças de espumante, comi uns salgadinhos finos e saí pronta para dar mais um giro pelas redondezas, para o bom e velho reconhecimento de área. Uma volta no sebo Balalaika, para trocar uma ideia com o amigo Ramos; o almoço ou petisco em um dos bares famosos do Beco da Lama e Adjacências, como o Bar do Pedrinho, do querido Nélio; o Bar da Nazaré, da digníssima que dá nome ao espaço; e ainda o Bardallos, do agitador cultural Lula, o criador do maior buchicho do centro, o Desfile das Kengas, que ocorre todo domingo de carnaval.  

Esse ambiente cultural faz parte da minha essência, faz parte da construção da minha personalidade e tem lapidado essa jornalista que, ao longo de 30 anos, construiu uma rede sólida de fontes e personagens, além de ter conquistado incontáveis amigas e amigos. Posso assegurar que nenhuma vez eu me arrependi de ter ido. Mais recentemente, fui para abertura da exposição “Maré”, de Sávio Bezerra, artista que conheci por ocasião do evento, mas já me apaixonei pela temática e pela abordagem social do seu trabalho. Nem titubeei: marquei na agenda e lá estava eu, muito lindinha com meu vestidinho de sábado, minha garrafa d´água e minha sacola retornável, como evidenciou meu querido professor Eduardo Pinto, que me elogiou tanto e com quem dei tantas risadas.

Antes, porém, eu tinha pego uma carona da Vila de Ponta Negra até o centro, com minha amiga Nat (Cores da Vila) e, ao estacionar, encontramos o artista Carlos Sérgio Borges, que tem um atelier na rua Santo Antônio, a rua da Igreja do Galo. Claro que fomos lá visitar o lindo o espaço, repleto de obras de artes. Nesse dia, nem precisei fugir da praia. Encontrei o artista Guaraci Gabriel, que me apresentou a uma amiga bem divertida. De imediato ficamos íntimas, pois eu precisei de internet, ela roteou, e em cinco minutos já éramos “amigas de infância”, fui chamada até de “rapariga véia” – forma oficial como se tratam as grandes amigas no Nordeste.

Nossa, demos muitas risadas. Como eu tinha programado eventos pela manhã e tarde (abertura da exposição “Ser Tão Seridó – Cenas do Geoparque), estava com o horário do almoço livre. Pois, a pedidos dessa moça voluntariosa, fomos à Praia do Meio, depois seguimos para um bar no Conjunto Alvorada, na zona Norte, para comermos uma feijoada. Na volta, fui deixada no Complexo Cultural Rampa, em Santos Reis, onde encontrei inúmeros amigos e ainda peguei outra carona (a terceira ou quarta do dia), pois sou dessas, adepta da mobilidade urbana sustentável.

Por último, ainda deu tempo de passar em uma festa chique – o Festival CAVE – em que ganhei uma taça de cristal maravilhosa e depois, finalmente, cheguei à Vila de Ponta Negra, ainda a tempo de curtir o “after” da festa promovida pelo projeto Ecopraça. Dá-lhe gente conhecida, abraços, muito carinho, mais risadas e um bocadinho de “mé”, que ninguém é de ferro.

Já concordei comigo mesma que as vesperais de sábado voltaram a a fazer parte da minha vida cultural. Fico atenta às divulgações e guardo a data, para não negligenciar os meus próprios interesses. Claro que quando é um evento como o Fest Bossa & Jazz, ou Mostra de Cinema de Gostoso ou o Festival de Cinema de Baía Formosa, eu fico naturalmente mais eufórica, por serem eventos realizados nas praias de Tibau do Sul (Pipa), São Miguel do Gostoso e Baía Formosa, respectivamente, lugares que eu amo. Mas, Natal é uma capital litorânea e o sol também brilha gostoso por aqui.    

Sobre a Autora 

Eliade Pimentel é jornalista, graduada pela UFRN, com larga experiência em jornalismo cultural, assessoria de imprensa, comunicação estratégica e comunicação em rede. Atua como Assessora de Comunicação na Fundação José Augusto (Governo do RN). Mãe de Alice, amante de Baía Formosa e Pium, ativista social, cultural e ambiental, autora de contos eróticos, membro do Mulherio das Letras Nísia Floresta e cronista deste portal.  

 

 


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