Eliade Pimentel
Jornalista
28/08/2024 11h05
Gratidão por minha vida simples e saudável
Saindo de um banho de mar, ao entardecer, numa piscina deliciosa que se forma na maré cheia, na Praia da Cacimba, em Baía Formosa, litoral no extremo Sul do Rio Grande do Norte, recebo um elogio bem espontâneo de Alice, minha filha, que atualmente está com 21 anos. Ela disse que achou linda a cena em que eu entro no mar; falou que eu estava bonita e não estou nada gorda. Rebati, dizendo que estou um... e usei um bordão gordofóbico em referência a mim mesma, ao que ela desconsiderou e falou para eu aceitar o elogio. Que sou bonita e ponto final. “É seu corpo”.
Adotei o estilo de vida simples e saudável por uma questão de sobrevivência na selva do cotidiano. E, antes que façam a relação sobre ser simples e saudável e estar fora de forma, um pouco acima do peso considerado saudável, eu digo que o meu conceito de saudável está mais relacionado ao que se passa na mente da pessoa. Claro que as escolhas do dia a dia são fundamentais, e a simplicidade vem ajudar a sustentar o conceito e o estilo de vida que eu tanto propago. Simples por me contentar com as coisas simples da vida, que para quem tem sensibilidade, são as mais sofisticadas.
Um café coado na hora, uma conversa jogada fora, sem hora para acabar, uma caminhada ao vento, sem lenço nem documento, uma roupa de grife de segunda mão, um prato antigo, um bolo recém assado em casa, uma fruta colhida no pé, um selinho de despedida no ônibus, uma fuga com mochila nas costas, uma carona num carro vintage, um espetáculo em praça pública, um banho de rio, um banho com ervas frescas do quintal, um livro lido na biblioteca, um vinho doce com a filha, na praia ao entardecer.
Ao afirmar que adotei esse estilo de vida como forma de sobrevivência na selva da vida, com certeza é porque o aspecto financeiro está totalmente interligado. Quando Alice era pequena, nunca comprei leite em pó da marca Ninho. Aliás, poucas as vezes eu comprei esse alimento. Nossa alimentação era à base de frutas, ovos, cuscuz, tapioca, tubérculos, legumes, peixe, frango, carnes magras e também leites de vaca “in natura” e leites vegetais. Usava muito a soja, depois até me arrependi, devido ao excesso de fitoestrógeno, que é uma substância vegetal parecida com o estrógeno, o hormônio feminino.
E, como tudo em excesso faz mal, sinto ter antecipado a menarca da menina. Enfim, não posso ter certeza, mas buscávamos opções sem lactose, pois fizemos testes e constatamos um pouco de alergia ou de intolerância à lactose. Naquela época, uns 20 anos atrás, a soja em grão era o substituto mais barato para a nossa economia doméstica. E dá-lhe soja em tudo o que eu fazia. Depois, fui conhecendo outros alimentos, e enriquecendo cada mais vez nossa alimentação. O que mais gosto de reforçar é que comemos muita coisa feita em casa, apesar de às vezes comermos na rua também.
Não conseguimos fugir de sanduíches, salgados, churrasco, batata frita, pizza. Gostamos sim, desses alimentos, porque são alimentos que nosso paladar urbano se adaptou, e é difícil fugir dessas gostosuras da vida cotidiana. Porém, o que nos torna mais saudáveis, e menos susceptíveis a doenças, é justamente o fato de que a nossa dose de alimentos saudáveis e caseiros é bem maior. Eu amo congelar frutas, como mamão e banana maduros, e também abacate, para depois processar e tomar como sorvete.
Sou muito prática na cozinha, em pouco tempo crio uma marmita de legumes, ovos cozidos e salada fresca, para comer no trabalho, enquanto faço a tapioca para comer de manhã. Preciso treinar, malhar, caminhar, tenho consciência que sim, mas também estou precisando reorganizar minha mente, pois ando muito sobrecarregada e isso não é nada saudável. Então, dentro do que posso, e do que considero importante para relaxar, para desanuviar a mente, para desacelerar, eu estou fazendo.
Como ler aos poucos cada uma das nove histórias do livro “Contos do Nordeste”, de Veridiana Avelino, norte-riograndense de Lajes, escritora de mão cheia que me seduziu com sua forma simples de escrever. Ela pega na mão da gente e nos leva a conhecer a região Nordeste, cada um dos seus estados, cheios de lendas, superstições e de uma gente rica de saberes e tradições. É assim, cada dia mais, eu me sinto grata por reconhecer em pequenos gestos, pequenas coisas, o que me faz feliz. Porque, ao nos contentarmos com a simplicidade, sentimos cada vez menos necessidade de ganhar rios de dinheiro.
Nunca soube o que é faturar muita grana. Melhor do que me frustrar, é saber que menos é mais. Ter é menos importante do que ser. E ser simples e saudável quer dizer que sou feliz com o que tenho à mão. Simples assim.
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Eliade Pimentel é jornalista, graduada pela UFRN, com larga experiência em jornalismo cultural, assessoria de imprensa, comunicação estratégica e comunicação em rede. Atua como Assessora de Comunicação na Fundação José Augusto (Governo do RN). Mãe de Alice, amante de Baía Formosa e Pium, ativista social, cultural e ambiental, autora de contos eróticos e cronista deste portal.
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