Jornalista
Não é sua pia, não é sua louça
Assistindo a uma série na Netflix, ouvi o seguinte ditado: “Não é sua pia, não é sua louça; não é seu jardim, não são suas pragas”. Na hora pensei, quando duas frases começam com um “não”, talvez seja melhor rever sua opinião. Na cena em questão, a interlocutora da protagonista disse-lhe para não se preocupar com o ex-marido, que estava bem enrolado no trabalho e na vida pessoal. Enquanto ela pensava no pai de seus filhos, a amiga a alertava para não pegar problemas para si.
Comecei a fazer uma analogia com o que move as pessoas no seu dia a dia. Até que ponto a louça não é nossa? Pensando no sentido literal, amo quando alguém lava a “minha” louça, tendo a pessoa se servido ou não da refeição que gerou as vasilhas sujas. Quer presente maior quando alguém chega e deixa nossa pia limpinha? Eu e minha irmã mais nova sempre nos lembramos de quando havia alguma amiga da minha mãe em casa e se dirigia à pia, e ela dizia: “deixa aí Fulana, que as meninas lavam”.
Olhávamos com ar de quem está para morrer, revirando os olhos, e o pior é que até nossa irmã mais velha, que é “especial”, aprendeu a deixa e repetia a fala de D. Helena. Só queríamos uma ajudinha. Hoje damos risadas, mas antes era frustrante. Pois, fazendo uma comparação com o ativismo de modo geral, fiquei pensando o que seria das minorias que habitam o planeta Terra se não fossem as pessoas que se colocam em seu lugar de fala.
Pensei em mim mesma, que queria tirar férias em janeiro para me dedicar mais às causas ambientais dos locais onde vivo, o município de Baía Formosa e o Distrito Litoral Pium, em Parnamirim, ambos no litoral Sul do Rio Grande do Norte. Por que me angustiar tanto com as causas ambientais? Essa louça é minha? Esse jardim é meu? Se eu fosse pensar em termos de propriedade, não mesmo. Mas, e se eu pensar no futuro? Se eu pensar nos meus parentes que ainda estão para vir ao mundo? E nos parentes das minhas amigas e dos meus amigos?
Geralmente eu me preocupo até com certo exagero com as pessoas ao meu redor. E não são poucas as situações em que levei inúmeros foras, para eu me aquietar porque aquela pia não era a minha. Ao mesmo tempo, quando tento relaxar, ouço uma voz chamando a “jornalista” do grupo ou da comunidade para se manifestar. E assim, sigo cuidando das pragas dos jardins de outrem.
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