Eliade Pimentel

Jornalista

19/02/2024 11h13

 

A tirolesa voltou

 

Passei anos da minha vida, em fases distintas, na circulação dos bairros Tirol, Petrópolis, Ribeira e Cidade Alta, que formam um quadrilátero correspondente aos bairros centrais da capital potiguar. Da aula de música de quando ainda era criança até a adolescência, escola regular, cursos de inglês e teatro, os anos intensos do pré-vestibular, estágios na mesma época em que morei em quarto e apartamento compartilhados, até a volta anos depois já mãe solo de uma linda filha.

Todas essas vivências foram fundamentais para a formação da jornalista que sou, principalmente a repórter, editora e mais recentemente a cronista que têm contribuído há três décadas para contar a história de quem produz e promove a cultura potiguar. Há poucos dias voltei ao Tirol, por conta de mudança no trabalho, e sinto renovada essa energia que me move a criar e lutar por um mundo mais inclusivo e por que não dizer, mais colorido.

Ao caminhar por entre as ruas largas do Tirol e Petrópolis, ao mesmo tempo em que as milhares de memórias afloram, eu penso de que forma poderei contribuir para que as pessoas visitem e valorizem mais os nossos equipamentos culturais, os nossos monumentos, e desfrutem do comércio tradicional. Sim, eu valorizo porque acho fantástico vir ao centro para resolver coisas que não se resolve no comércio de bairro.

Eu falo com naturalidade os nomes de ruas e cruzamentos, e acho graça de quem não entende a funcionalidade do traçado geométrico desses bairros. Passando pelas ruas, observo casas antigas e também suas substituições, às vezes um terreno baldio ou estacionamento. Infelizmente, o abandono é crônico nesses lugares, por isso a cada imóvel restaurado, e com uso bem definido, eu fico muito feliz.

Mas, o que me chamou atenção para escrever sobre minha volta ao Tirol foi uma impressão de familiaridade que eu tive ao passar por um flanelinha na rua Açu, um dos caminhos que eu faço até chegar ao meu local de trabalho. Antes de sair do bairro, nove anos atrás, eu morava na rua Afonso Pena. Fazia tudo a pé, de casa para a escola da filha e para minhas funções profissionais. Teve um momento em que trabalhei na Fundação José Augusto (FJA), autarquia ligada ao Governo do Estado para onde voltei, e minha logística era organizada praticamente a pé para todo canto.

Do apartamento à Escola Doméstica, para a caminhada na rua, ao ballet, às entrevistas, e à diversão. Tudo na mesma região da cidade. Eu sempre dizia que ir para Lagoa Nova já requeria uma programação prévia, pois eu era “mal-acostumada” até demais com a proximidade dos lugares que eu frequentava. E hoje, mesmo que eu não seja reconhecida, como eu penso que fui pelo rapaz que toma conta dos carros, a sensação é de voltar para casa.

E à exemplo da sensação de tristeza que me bate quando vou à Cidade Alta e vejo o abandono, tenho também a sensação de que tudo poderia ser melhor pelas bandas de cá da capital potiguar. Voltei, sim, não para morar, como antes, apesar de ter acesso à casa da família no bairro do Alecrim, que é pertinho, mas para trabalhar e contribuir para a valorização da nossa cultura.

E o que posso fazer, neste momento, é convidar você a conhecer ou voltar também. Conheça ou volte a frequentar a Biblioteca Pública Câmara Cascudo, a Cidade da Criança, a Pinacoteca Potiguar, a circular pelas ruas, pelos cafés, pelas galerias. Aproveite as ruas largas para caminhar, para contemplar exemplares ainda existentes da arquitetura modernista.

Aproveite os dias, aproveite a cidade, aproveite o ar de Natal que ainda é respirável. Não deixe para vir aos bairros centrais somente em casos de saúde, visto que aqui se concentram as principais clínicas e hospitais da cidade. Venha para passear e conhecer uma parte de nossa História. Venha para respirar cultura, para andar de mãos dadas na Praça Pedro Velho, para tomar sorvete de frutas regionais no carrinho do sorveteiro ambulante, para almoçar no Mercado de Petrópolis e curtir um “happy hour” na Praça das Flores.

A vida aparenta ser bem colorida pelas bandas de cá. As lojas chiques anunciam promoções que podem entrar no seu bolso, aqui e acolá tem uma programação cultural ao ar livre, e às quintas-feiras você pode sambar no Beco da Lama na Cidade Alta. Sim, amo estar de volta ao centro de Natal. E com a sua companhia será bem melhor estar por aqui, passeando, curtindo e apreciando as coisas boas da vida.

 


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