Eliade Pimentel

01/07/2024 12h51

O trabalho não sai de mim

Era uma tarefa escolar e a pergunta foi sobre a profissão de uma pessoa adulta. Alice me entrevistou e ao escrever sobre o meu local de trabalho, ela afirmou: em casa, na padaria, na biblioteca ou em qualquer outro lugar. Pois, na época, eu atuava como jornalista freelancer e geralmente ia a lugares com internet e abria o notebook, transformando qualquer lugar em escritório. Para economizar idas e vindas, muitas vezes eu ficava na escola dela, por isso a citação da biblioteca e também padaria.

Sou muitas vezes criticada por viver para o trabalho. Hoje uso muito mais o celular, que dá certo também para trabalhar. Escrevo, edito material, envio e posto pelo celular. Então, é muito fácil me ver catucando o aparelho, com a tela quase grudada no rosto, porque sou míope e enxergo melhor de perto. Tem gente que compreende, tem gente que não, a começar pelas pessoas de casa.

Gosto e me envolvo tanto que muitas vezes nem estou trabalhando, mas falando sobre coisas referente ao trabalho. E num dia desses, estava eu numa festa, o 10º Arraial Multicultural Casa de Taipa, na praia do Sagi, em Baía Formosa, na divisa com a Paraíba, e encontro pessoas queridas, como a escritora Eva Potiguara. Largo o meu companheiro com o casal de amigos, e começo a guiá-la na festa, à procura do idealizador Carlos Rubens, que faz a festa acontecer.  

Mais tarde um pouco, já estava eu noutra missão, e por uns minutos, aqui e acolá, falando com pessoas recém-conhecidas sobre minha pauta preferida. E de vez em quando, caçando uma brecha de internet, para verificar o perfil institucional, pois havia uma postagem programada. Até que chega um momento em que um dos meus interlocutores me aconselha a curtir a festa. Acredito que por atuar em comunicação, é tudo bem orgânico. Eu penso, eu trabalho, eu vivo, eu trabalho.

Acredito que preciso de uma desintoxicação de vez em quando. O famoso “detox”, umas férias, passar uns dias desligada de tudo. Mas, tenho trabalhado tão intensamente, que quase nunca tiro folga. Sempre tenho muito a fazer, a pensar, a executar. E eu gostaria de programar melhor meus dias, porém, nem sempre tudo flui rapidamente. O trabalho depende de o juízo funcionar, e nem sempre estou cem por cento. Acredito que gasto muito tempo devido o meu perfeccionismo.

Certa vez, fiz uma matéria sobre a necessidade de momentos de ócio, de lazer, e uma neurocientista deu entrevista, confirmando essa necessidade. Lembro de ela mesma reconhecer que também é muito ocupada, e uma solução para distrair a mente era se programar para assistir a filmes em duas sessões. Assim, conseguia parar para ver ao menos a metade da película. Achei uma boa solução, pois nem sempre estamos com disposição, e assim, gera até uma expectativa para a segunda sessão.

Eu gosto de conversar, bater papo com as amigas para distrair a mente. No dia a dia, nem sempre é possível me desligar do telefone, mas eu tento. Teve uma ocasião que foi bem diferente. Eu marquei um almoço com uma amiga muito especial e ambas deixamos o celular na bolsa. Tiramos apenas para registrar o momento tão especial. Quando eu retornei ao expediente, tinha mil e uma ligações e mensagens. Em vez de ficar chateada, eu dei risada. Nossa, é só passar uns minutos desligada do mundo que o mundo precisa de você.

Confesso que tenho dificuldade para mudar o foco, fazer atividades manuais, por exemplo, mexer com plantas de modo sistemático, porque considero que tenha de estar conectada, comunicando-me, sendo ouvida, sendo lida. Faz tempo que estou sem fazer terapia e talvez seja uma boa voltar. Pois é cansativo demais nunca conseguir desligar-me. Agradeço demais quem tem paciência comigo, e compreendo também quando as pessoas me criticam.

Elas querem uma mãe, uma namorada, uma irmã, uma amiga presente. E não apenas uma jornalista atuante durante as 24 horas do dia. E assim caminha a humanidade, cada qual com suas atribuições, aflições, agonias, senões, porquês e correrias. A cada dia, um passo em direção ao centro de mim mesma, para refletir como gasto as horas do dia. E assim, tentar me dividir melhor entre tudo o que faço e represento.

Oxalá por dias mais livres, naquela vibração positiva de faça hoje, curta o hoje, poste amanhã ou nunca, pois é melhor ter lembranças na mente, do que postagens com mil curtidas. E mesmo quando não está tudo certo, vai estar tudo bem.


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