Fábio de Oliveira

10/01/2022 10h34

 

Comunicação e consumo de massa: o cinema como manutenção do sistema colonial

O que nos leva parar cerca de uma ou duas horas das nossas vidas para assistir a um filme? O elenco, os personagens, os efeitos especiais, os conceitos técnicos utilizados, a direção, a narrativa, os pensamentos e a filosofia trabalhada, ou até mesmo o mero tempo livre. Somos conduzidos a consumir, diariamente, determinadas produções cinematográficas, que vêm acompanhadas de vários elementos, signos e significados que exercem influências em nossas condutas ideológicas e empíricas na sociedade. Quanto custa seu entretenimento? O que você absorve, ou você é absorvido?

Desde os primeiros contatos com o cinema, não somos ensinados a compreender como operam as engrenagens da indústria cultural. Entre a singela distração e a compreensão da dominação ideológica que o capitalismo exerce, permanecemos na inocência de um entretenimento. Os tentáculos semióticos nos prendem e nos inserem em uma cultura de massa e de consumo cada vez mais capitalista e padronizada pelos mercados hollywoodiano e europeu.

Quando é dialogado sobre cinema, os primeiros filmes que vêm a nossa mente e lançados nas rodas de discussões são, majoritariamente, os produzidos pelos estúdios estadunidenses e europeus. É fundamental a compreensão sobre quais são os monopólios cinematográficos e as intenções existentes por trás dessas produções, assim como é fundamental compreender como esses aspectos têm sido trabalhados e influenciados na sociedade, desde os primórdios dos trabalhos com películas até os dias de hoje, sob um viés capitalista.

É válido analisarmos e compreendermos como são apresentados os elementos culturais que consumimos, até mesmo distraídos, que não são ingênuos e há um propósito pensado nisso tudo. A casa, o carro, a juventude, o celular, o refrigerante, os arquétipos e tantos outros elementos são trabalhados na fruição estética discutida por Adorno. Formas de ser, ver, existir, consumir e precisar são padronizadas com a finalidade de enriquecer as grandes corporações em cada cena. A indústria cultural é voltada para atender demandas de um mercado de consumo.

Acompanhamos cada vez mais a evolução das tecnologias de comunicação, e consequentemente, os instrumentos de dominação. Da televisão às plataformas streamming nos dispositivos móveis, o controle e o poder têm customizado formas de se estabelecer. Alienamo-nos, consideravelmente, a ponto de perdermos nossa intelectualidade, capacidade de tecer críticas e de nos situarmos conscientemente na sociedade. 

O modelo de vida ocidental nas telas é um meio de configurar estilos comportamentais em uma sociedade colonizada sem sinais de reações à altura contra o processo contínuo de dominação ideológica colonial. O que podemos observar são ciclos de relações de consumo constantes, que nos prendem às cópias infinitas, sem novidades e sem reflexões.

Vivemos em uma sociedade de consumo e os meios de comunicação de massa são cúmplices. Concordando com Baudrillard, os objetos culturais não são apenas um valor de uso e um valor de troca, também lhes são atribuídos um valor de signo, o qual é determinante nas práticas de consumo da sociedade.

Por trás dos filmes e séries que você consome, exportados dos EUA e da Europa, há muita gente, além do elenco e dos profissionais do estúdio. Gente poderosa, que sabe muito bem como utilizar a comunicação para manipulação das massas e nos transformar em produtos e consumidores frenéticos.

Analisar criticamente como o cinema influencia nossas vidas e fortalece o sistema colonial casa vez mais agressivo, nos despertará para outras perspectivas de mundo e de vida. E quem sabe, podemos sair da condição de objetos.

 

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