Fábio de Oliveira

05/09/2022 09h50

Emergência decolonial na educação

 

            Quem me conhece minimamente, sabe que eu atuo no sítio histórico e ecológico Gamboa do Jaguaribe. Desenvolvo atividades não somente no audiovisual e nas artes visuais, mas também como guia turístico do espaço, e isso requer estudos transversais constantes. Durante o mês de agosto, recepcionamos muitos estudantes de diversas faixas etárias e equipes pedagógicas de várias escolas públicas e privadas do RN. Observando as reações de cada aula de campo ministrada, pus-me a refletir sobre como são abordados os assuntos relacionados aos nossos povos indígenas, povos de terreiro e demais diversidades existentes.

            A maioria das crianças faziam expressões de medo e espanto quando nossos encantados como a comadre Fulozinha, a Caipora, o Boitatá, dentre outros, foram mencionados nas aulas. Entre colorir desenhos de “personagens” folclorizados em tarefas escolares e ouvir relatos de vivências sobre a existência deles, há um abismo de diferença. A narrativa colonial é responsável pelo conforto de saber que é uma lenda e o pavor expresso ao saber que são cultuados; ambas as circunstâncias contribuem da mesma forma para o genocídio epistêmico.

            Ainda no mesmo cenário e local, a reação com os adultos não é diferente. A fumaça que sai debaixo da panela de barro que defuma o espaço e as pessoas que estão ao redor, trazem memórias olfativas e as imagens de vivências da época da infância. Memórias que são retornadas apenas com o cheiro e o sabor de beiju ou uma tapioca passada um pouquinho do ponto. Todes adoram essas sensações nostálgicas provocadas por esses momentos.

            Mas ao começar a explicar que estamos no catimbó (em tupi ka’atimbó que significa “fumaça do mato”), as reações transformam-se e tornam-se similares às das crianças. As distintas crenças, diferentes do cristianismo, são demonizadas e subalternizadas, a ponto de as pessoas terem medo, em vez de estarem abertas aos diálogos e tomarem ações que envolvam as diversidades na condição de educadores para a promoção do respeito.

             Mas se os profissionais da educação, que também não deixam de ser cidadãos, não romperem com essa lógica e narrativa colonial de um padrão único, não haverá avanços significativos nos debates. Não há desconstruções e vontade de transformar essas realidades por parte destes profissionais e das instituições formadoras! Como já disse algumas vezes, essas pessoas não têm culpa, pois foram ensinadas assim e dessa forma reproduzem, mas é preciso e urgente haver aberturas para diálogos e discernimentos para romper com esses estereótipos que seguem sendo replicados pelas crianças, os futuros adultos de amanhã.

 


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