Hugo Manso

Engenheiro e professor do IFRN - Presidente do Conselho Curador da FUNCERN

27/09/2023 09h52

Como nos comunicar com nossos estudantes?

 

Em artigo recente, refleti o diálogo entre a Educação Profissional e Tecnológica (EPT, prevista na LDB – Lei N° 9394/96) e a Comunicação Popular.

Citei o livro de Gito Gianotti, “Comunicação dos trabalhadores e hegemonia” e o portal do Ministério da Educação que afirma ser a EPT uma contribuição “para que o cidadão possa se inserir e atuar no mundo do trabalho e na vida em sociedade”.

Mantenho aqui a atenção na comunicação entre docentes, técnicos em educação e nossos estudantes. Reafirmo que trabalhar conhecimentos técnicos e tecnológicos, exercer a prática profissional e apresentar uma nova linguagem, científica e tecnológica, não precisa (e não deve) utilizar códigos indecifráveis.

“Necessário utilizar palavras comuns, exemplos que todos conheçam e se identifiquem. Particularmente quando estamos diante estudantes da Educação de Jovens e Adultos (EJA) ou em cursos de Formação Inicial e Continuada (FIC).” Manso Jr, Hugo in Educação Profissional e Tecnológica & Educação Popular.

A educação formal e acadêmica não pode ser sentida como um sofrimento. Nem pelos profissionais, nem pelos estudantes e suas famílias. Desde sempre, ela, a educação, “se desenvolve em diversos ambientes e situações. Desde a vida familiar, na base da convivência, em escolas, na vida social, no mundo do trabalho e nas manifestações esportivas e culturais.”  

Acompanhamos crianças em sua aprendizagem e no seu engatinhar. Vemos começar a caminhar, correr e cair. A expressão das primeiras palavras, primeiras frases e seu desenvolvimento cognitivo, é fantástico. E muito prazeroso.

Todos nós, humanos, somos seres educacionais. Vivemos um mundo mediado pelas palavras, por códigos orais, escritos e gestuais.

Nós profissionais da Educação Profissional e Tecnológica vivemos nesse mundo. Contudo, muitas vezes não temos uma formação pedagógica sólida, não cursamos licenciaturas. No meu caso, sou engenheiro mecânico. Antes de ser aprovado em concurso público na ETFRN (1993) fiz estágios e trabalhei na iniciativa privada. Em usinas de açúcar e álcool, na indústria de beneficiamento do sal marinho, em Mossoró, (experiência única), e na área de projetos de tubulações, prestando serviços à Petrobras.

Tonar-se “professor” após 09 anos de vida profissional na área da engenharia, sempre dividindo tempo com a militância política, não foi um exercício simples. Essa minha experiência, repete-se, com pequenas alterações, na imensa maioria dos colegas que atuam na EPT em todo país.

Antes da década de 1990 muitos dos professores selecionados não tinham curso superior. Eram profissionais “práticos” da mecânica, da eletro, da construção civil ou da mineração... Hoje, com mestrados e doutorados, continuamos a viver o mesmo desafio da linguagem e da forma como transmitir conhecimentos sistematizados na área técnica e tecnológica.

Em nossas salas de aula encontramos jovens a partir de 13/14 anos cursando o nível médio integrado à educação profissional. Temos também estudantes com ensino médio propedêutico concluído, buscando uma formação profissional. Ou trabalhadores em busca da requalificação e titulação acadêmica nas diversas áreas do conhecimento científico e tecnológico.

Portanto, integramos em nossas escolas, institutos e universidades os “diferentes níveis e modalidades às dimensões do trabalho, da ciência e da tecnologia” (Art. 39 Capitulo III da LDB). Vamos desde a formação inicial e continuada até a graduação e pós-graduação”.

Em setembro fazemos referência à fundação das primeiras 19 escolas de aprendizes e artífices do país (1909). Hoje, 38 Institutos Federais de Educação, Ciência e Tecnologia, 02 Centros Federais de Educação Tecnológica (Cefet), a Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR), 22 escolas técnicas vinculadas às universidades e o Colégio Pedro II integram a Rede Federal de EPT.

Somando-se a esse universo existem as universidades públicas, privadas e religiosas. As escolas técnicas estaduais, municipais, privadas e confessionais. Sindicatos, ONG’s e todo “Sistema S” também ofertam cursos de educação profissional e tecnológica.

Assim, há no Brasil um imenso efetivo de profissionais da educação profissional e tecnológica em diálogo permanente com seus estudantes  

Praticar um “papo reto entre gerações distintas”, conversar e olhar no olho do educando as vezes não é simples. Precisamos transmitir, através da fala, de uma apresentação multimídia ou de um texto, as orientações necessárias para a formação do técnico cidadão. Competente em suas atribuições profissionais e consequente diante a realidade social, ambiental e cultural de nosso tempo.

Necessário, portanto, utilizar palavras comuns, exemplos claros e diretos que todos e todas conheçam e se identifiquem.

 

Hugo Manso

Engenheiro e professor do iFRN

Presidente do Conselho Curador da FUNCERN

 

*ESTE CONTEÚDO É INDEPENDENTE E A RESPONSABILIDADE É DO SEU AUTOR.


*ESTE CONTEÚDO É INDEPENDENTE E A RESPONSABILIDADE É DO SEU AUTOR (A).